raul juste lores
20/02/2013 - 04h30
Onde os velhinhos têm vez
Miami era o destino natural para muitos novaiorquinos quando se aposentavam. Era. Um número cada vez maior de nova-iorquinos acima de 65 anos permanece na cidade e desfruta de seus encantos e diversidade, apesar da fama da agressividade e da pressa de seus habitantes.
Os velhinhos mais sacudidos podem ser vistos por toda a parte. Mesmo os com mobilidade prejudicada. Andadores e cadeiras de rodas elétricas, cada vez mais baratas e made in China, fazem que uma população antes condenada a ficar em casa vendo televisão (como no Brasil), hoje esteja nas ruas.
Rampas em todos os edifícios, inclusive os históricos, se tornaram regra em Nova York. Em muitos cinemas, a população mais velha já é maioria, como no circuito alternativo do Village.
A prefeitura de Nova York tem instalado semáforos mais vagarosos na mudança do vermelho para o verde para permitir que quem ande mais devagar possa atravessar com segurança --25 cruzamentos onde essa população é maior já foram beneficiados.
17% da população da cidade tem mais de 60 anos. Em bairros como o Upper West Side, essa parcela passa dos 22%. Em conjuntos habitacionais da prefeitura, já existem serviços para os mais velhos, que vão de aulas de ioga ocupando os antigos salões de festa, a workshops para manter essa população ocupada.
Em várias praças, como a Tompkins Square, perto de onde moro, há diversas atividades culturais e esportivas com os mais velhos em mente.
A ONG Associação Judaica para servir os mais velhos (JASA, das iniciais em inglês) recruta voluntários entre professores de educação física e de ioga para dar aulas gratuitas em conjuntos habitacionais do Harlem.
No antigo condomínio Lincoln Towers, no Upper West Side, com 9 mil moradores em 4 mil apartamentos, 40% dos habitantes têm mais de 60. Boa parte passou dos 80 anos. Número enorme é de solteiros ou viúvos. O condomínio administrado como cooperativa mantém o programa Project Open, que organiza de leituras de clássicos com um professor de Literatura aposentado para 50 pessoas em um salão do prédio à medição mensal da pressão dos moradores.
Uma reportagem recente do New York Times mostrou um grupo de voluntários adolescentes que ensinam semanalmente como usar um laptop e navegar na internet (para algumas pessoas com 80 ou 90 anos, isso é certamente revolucionário; adolescentes e velhinhos saem melhor da experiência).
Outra grande ideia, nascida da generosidade entre estranhos, é uma série de pastas que ficam no térreo dos edifícios do condomínio Park West Village, com voluntários para tarefas simples,"Diretório dos recursos para residentes". Ali, vizinhos se oferecem de companhia para visita ao médico (para quem não quer ir sozinho), quem pode buscar um remédio na farmácia, ler em voz alta um texto ou até organizar uma refeição.
A sociedade só sai ganhando com parte da população mais experiente cada vez mais atuante. Boa parte dos voluntários do museu Metropolitan, encarregados de ligar para sócios e visitantes atrás de doações e colaborações, são aposentados voluntários.
Em 1990, quando a cidade sofria com 2500 homicídios por anos, os velhinhos estavam bastante ausentes do espaço público --eram alvos fáceis da criminalidade. No ano passado, o número de homicídios caiu para 414 em Nova York.
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Falando em velhinhos, surpreende a intransigência dos defensores brasileiros do regime dinástico dos octagenários de Cuba. Um regime aonde há 53 anos só existe um partido, uma voz e uma família no poder. Lá, são os jovens que não têm vez.
O jornalista Raul Juste Lores é correspondente da Folha em
Nova York, ex-correspondente em Pequim e Buenos Aires e ex-editor
do caderno 'Mercado', e bolsista da fundação Eisenhower Fellowships. Escreve às quartas-feiras no site. Siga: @rauljustelores
Nova York, ex-correspondente em Pequim e Buenos Aires e ex-editor
do caderno 'Mercado', e bolsista da fundação Eisenhower Fellowships. Escreve às quartas-feiras no site. Siga: @rauljustelores
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